Não. Essa polêmica foi requentada com a declaração do biólogo americano James Watson, co-descobridor da estrutura do DNA e vencedor do Nobel de Medicina em 1962. Em outubro, Watson disse ao jornal britânico The Sunday Times que estava preocupado com o futuro da África, afirmando que “todos os testes de inteligência” negam a idéia de igualdade intelectual entre brancos e negros. Depois, o próprio cientista se desculpou, explicando que a idéia de superioridade branca não tem comprovação científica. Nisso ele acertou. Primeiro, porque a única coisa que pessoas da mesma cor de pele compartilham é a... cor da pele.
Segundo, porque não há “o” gene da inteligência – na verdade, milhares deles interferem na formação da capacidade intelectual. E, terceiro, porque “não há nenhuma relação entre os genes responsáveis pela pigmentação da pele e os que formam o sistema nervoso central”, diz o médico-geneticista Sérgio Danilo Pena, da UFMG. No fim das contas, um negro africano pode ser geneticamente mais parecido com um branco norueguês que com seu vizinho, também negro.
Por isso, a maioria dos cientistas defende que o conceito de “raça” (um grupo que compartilharia características físicas e composição genética) simplesmente não existe. Definir inteligência também é complicado: além do raciocínio lógico, há outras características, como a capacidade musical, que também podem ser consideradas como inteligência. Veja abaixo os passos da tensa relação entre ciência, raça e inteligência.
Elementar, caro Watson
O conceito de raça está em desuso. O de inteligência é um mistério. E um não tem a ver com o outro
O QUE É “RAÇA”?
O PAI DAS RAÇAS
Em 1758, o botânico Carolus Linnaeus dividiu em 4 raças a espécie humana: os vermelhos, “geniosos e despreocupados”; os amarelos, “severos e ambiciosos”; os negros, “ardilosos e irrefletidos”, e os brancos, “inteligentes e engenhosos”. Ele era branco...
NOVO CONCEITO
Em 1950, retomando uma idéia da Antiguidade greco-romana, a Unesco usa o conceito de etnia para classificar os homens com base em fatores comuns – ancestralidade, religião, cultura ou idioma – em vez de usar como base a aparência física, como os defensores da idéia de raça.
TOME CULTURA
Nos anos 50, com a descoberta das influências do ambiente na constituição pessoal, ganha força o conceito de população – um grupo que compartilha traços culturais, não importando a aparência física ou ancestralidade. É o critério mais aceito hoje.
QUANTA EVOLUÇÃO!
Nos anos 90, a Teoria da Evolução das Espécies ajuda os cientistas a descobrir que a maior produção de melanina, que dá o tom mais escuro à pele, é uma estratégia para o corpo armazenar substâncias em regiões de muita exposição à luz solar.
O QUE UMA COISA TEM A VER COM A OUTRA?
MEDIDA RACISTA
Em 1899, o antropólogo francês George Vacher de Lapouge mediu os crânios de várias raças, dos arianos de “crânios longos” até os “braquiocefálicos” negros e judeus, “medíocres e inertes”.
FALSO LAÇO
Em 1913, o psicólogo Henry Goddard fez uma adaptação tendenciosa dos testes de QI para classificar 40% dos imigrantes americanos como mentalmente inferiores, rotulando-os de imbecis. Confrontado, ele admitiu a fraude anos mais tarde.
IMPLOSÃO
Em 1981, o biólogo Stephen Jay Gould reafirmou a independência do desenvolvimento da cor da pele e da inteligência e desmontou a idéia de que todas as habilidades do ser humano têm origem genética.
DESCONSTRUÇÃO
Na década de 1990, cientistas americanos descobrem que as pessoas mais ricas tendem a se sair melhor nos testes de QI. A conclusão: o teste era bom só para indicar que uma boa educação está relacionada às oportunidades propiciadas pelo nível econômico.
O QUE É INTELIGÊNCIA?
MEDIÇÃO POLÊMICA
Inventado no início do século passado, o teste de QI (quociente de inteligência) pretende medir a capacidade mental das pessoas. Mas os críticos dizem que ele só considera o raciocínio lógico- matemático, uma pequena parcela da inteligência.
OS PRIMEIROS SUBTIPOS
Criada na década de 1950, a Teoria das Habilidades Cognitivas diz que o homem tem 10 subtipos de inteligência, embora derivados de uma capacidade geral. É o primeiro ataque à noção de raciocínio lógico como sinônimo de inteligência.
INTELIGÊNCIAs MÚLTIPLAS
No fim dos anos 80, o pesquisador americano Howard Gardner classificou a inteligência em 8 habilidades: lógico-matemática, lingüística, musical, físico-cinestésica, espacial, naturalista, existencial e inteligências pessoais.
TANTAS EMOÇÕES
Desenvolvida pelo psicólogo Daniel Goleman no fim dos anos 90, a Teoria da Inteligência Emocional usa testes para medir o quociente de inteligência emocional (QE). Os críticos argumentam que o QE só mede variações de personalidade.